Uruaçu guarda, em sua história, uma herança cultural rica e ainda pouco explorada: a presença cigana, representada com destaque pela família Miklos, que mantém vivas as tradições de um povo com milhares de anos de história. Descendentes da etnia Calderash, uma das mais tradicionais do mundo cigano, os Miklos chegaram a Goiás por meio de Candida Lobão Miklos e Jorge Miklos, avós vindos do Leste Europeu: ela austríaca, ele húngaro. Foi por meio deles que as raízes culturais foram fincadas em solo uruaçuense, onde seguem florescendo com orgulho e respeito à ancestralidade.

A família representa mais que um legado de sangue. É também símbolo da preservação de costumes, rituais e modos de vida transmitidos oralmente ao longo de gerações. Festas de casamento com música e dança, uniões entre ciganos, práticas espirituais e uma organização familiar estruturada são exemplos de tradições mantidas até os dias atuais.
A origem do povo cigano remonta a cerca de mil anos, quando migraram do norte da Índia em três grandes fluxos, para a Rússia, Turquia e Egito, este último sendo a principal porta de entrada para a Europa Ocidental. Ao longo dos séculos, enfrentaram perseguições, preconceito, escravidão e, mais recentemente, o genocídio durante a Segunda Guerra Mundial, que forçou muitos a buscar refúgio em países como o Brasil.
A chegada dos primeiros ciganos ao Brasil foi registrada em 1574, mas os maiores fluxos migratórios ocorreram no século XVII, com a vinda de grupos que atuavam como artistas e caldereiros, artesãos especializados em joias e utensílios de metal. Durante o reinado de Dom João VI, era comum a presença de ciganos em festas realizadas no Paço Imperial, no Rio de Janeiro.
Atualmente, estima-se que mais de 400 mil ciganos vivam no Brasil, divididos em três grandes grupos: os Rons ou Romes, com raízes na Iugoslávia, Romênia, Grécia e antiga URSS, os Calons, originários de Portugal e Espanha, e os Matchuaias, com forte tradição na arte divinatória.
Entre as principais etnias presentes no país estão a Calderash, Rorarramô e Calon. A família Miklos, como parte do grupo Calderash, é reconhecida por sua dedicação à preservação da cultura, da língua e dos costumes ciganos, um compromisso que se destaca num mundo cada vez mais globalizado e padronizado.
Entre os rituais mais importantes estão os casamentos, que podem durar até três dias, especialmente quando a noiva é virgem. Essas celebrações, repletas de música, dança e vestimentas coloridas, são verdadeiros marcos de continuidade cultural e social.
O termo “cigano” (ou gypsy, em inglês) é usado de forma ampla para se referir a diferentes povos nômades espalhados pelo mundo. Apesar das distinções culturais, religiosas e linguísticas entre os grupos, compartilham uma trajetória comum de exclusão, resistência e afirmação de identidade.
Em Uruaçu, a presença cigana não é apenas uma história familiar, mas parte fundamental da história do município e do Brasil. Representa a força de um povo que, mesmo sem território fixo, constrói sua pátria na memória, na tradição e na permanência dos seus valores.

A presença cigana em Uruaçu é, portanto, um testemunho vivo de que resistir também é celebrar, e de que a cultura permanece viva não apenas pela lembrança, mas principalmente pela prática cotidiana de quem se recusa a deixar sua história desaparecer.


























