Segundo Amanda Rangel, manter hábitos de autocuidado, identificar sinais de esgotamento e construir redes de apoio são fundamentais para proteger sua saúde mental no trabalho
Já se pegou suspirando fundo antes de começar mais um dia de trabalho? Se o ambiente profissional anda pesando nos ombros e no coração, é hora de virar esse jogo. Vamos falar sobre como cuidar da sua saúde mental, mesmo quando o escritório parece um campo minado, e descobrir maneiras de trazer leveza e bem-estar para a sua rotina.
A saúde mental no trabalho é um tema central, especialmente quando o ambiente corporativo se torna tóxico e impacta diretamente o bem-estar dos colaboradores. Embora cada pessoa reaja de maneira diferente às pressões e desafios do cotidiano, há sinais claros de que a saúde mental está sendo comprometida. E não é raro que essas situações se manifestem de maneira sutil no início, mas acabem crescendo e trazendo impactos mais profundos ao longo do tempo.
Imagine, por exemplo, um profissional engajado e participativo que, aos poucos, começa a demonstrar dificuldades em levantar da cama, sentindo-se sempre cansado e evitando reuniões. Esse cansaço não é apenas físico; ele reflete um desgaste emocional intenso que, muitas vezes, leva à falta de motivação e ao isolamento. Fisicamente, o colaborador pode começar a sofrer de enxaquecas, gastrites e outros problemas diretamente relacionados à ansiedade e ao estresse.
Esse tipo de exemplo se torna comum quando o ambiente corporativo passa a ser dominado por pressões excessivas, falta de apoio ou expectativas irreais. A psicóloga Amanda Rangel destaca que “o cansaço mental, esquecimento de curto prazo, falta de motivação e dificuldades em se concentrar são alguns dos principais indícios de que o ambiente de trabalho está afetando a saúde mental de uma pessoa”. Além disso, outros sintomas incluem irritabilidade, insônia e problemas gastrointestinais, que são respostas diretas do corpo a um ambiente onde o estresse se torna constante.
É nesse contexto que surge uma das questões mais delicadas: quando buscar ajuda profissional? Amanda Rangel pontua que esse é um momento difícil para muitos profissionais, que muitas vezes tentam se adaptar à situação, alterando suas rotinas e até tentando conversar com gestores. No entanto, quando esses esforços não resultam em mudanças no ambiente, pode ser hora de repensar a carreira ou buscar apoio psicológico. “Se a pessoa já tentou mudar hábitos, conversar com a liderança e a situação persiste, isso pode indicar que o ambiente é insustentável. A busca por ajuda profissional deve ocorrer assim que houver o menor sinal de sofrimento mental”, explica Amanda.
Um cenário muito comum é o de um colaborador que começa a ter crises de pânico antes de ir para o trabalho ou se vê chorando sem motivo aparente durante o expediente. Esses são sinais alarmantes de que a situação chegou a um ponto crítico. Outro exemplo trazido pela psicóloga é de alguém que, inicialmente, sentia apenas desmotivação, mas agora enfrenta palpitações e falta de ar no ambiente de trabalho. Quando a situação começa a afetar a vida pessoal, como a relação com cônjuges ou familiares, isso é um forte indicativo de que é necessário considerar uma mudança.
Para aqueles que ainda conseguem lidar com o ambiente tóxico, algumas práticas diárias podem ajudar a proteger a saúde mental. Uma das sugestões da especialista é estabelecer limites claros. “Estabelecer limites com relação às demandas de trabalho, como horários de descanso e momentos de desconexão digital, é fundamental”, afirma. Outro hábito importante é evitar almoçar na mesa de trabalho, buscando um momento para caminhar ao ar livre ou desconectar-se do ambiente. Pequenas pausas, como meditações rápidas no início do dia, também ajudam a reduzir o estresse e preparar a mente para o que está por vir.
Essas práticas, somadas a uma rotina que inclua atividades físicas e hobbies fora do trabalho, são essenciais para equilibrar o corpo e a mente. O autocuidado desempenha um papel vital nessa equação, sendo responsável por criar momentos de reconexão pessoal em meio ao caos. Amanda Rangel sugere que, mesmo em um ambiente estressante, encontrar tempo para atividades prazerosas, como ouvir música ou ler um livro, pode ser uma maneira eficaz de aliviar as tensões do dia a dia. “O autocuidado ajuda a pessoa a se reconectar consigo mesma, restabelecer energias e manter uma visão mais equilibrada da vida”, pontua.
Além das práticas de autocuidado, é essencial que as pessoas construam redes de apoio dentro e fora do ambiente de trabalho. A troca de experiências com colegas pode aliviar a pressão, enquanto amigos e familiares oferecem uma perspectiva externa valiosa. Segundo Amanda, “essas redes ajudam a pessoa a não se sentir sozinha, proporcionando suporte emocional e novas estratégias para lidar com o estresse”.
Em ambientes onde o estresse é constante e a pressão parece não ter fim, é fácil se perder em um ciclo de exaustão. Por isso, reconhecer os sinais e tomar medidas para se proteger é fundamental para evitar consequências mais graves, como o burnout. Aliás, o esgotamento físico e emocional conhecido como síndrome de burnout tem se tornado cada vez mais comum, especialmente em ambientes corporativos onde o colaborador se sente desvalorizado, sobrecarregado ou incapaz de desconectar-se do trabalho.
Outro ponto importante, que muitas vezes passa despercebido, é o impacto do ambiente de trabalho tóxico na produtividade e na qualidade das entregas. Um colaborador que antes era produtivo e eficiente pode começar a apresentar falhas, atrasos e queda na qualidade do que produz. Isso não é um reflexo de falta de comprometimento, mas sim de um desgaste mental que compromete a capacidade de manter o foco e a motivação. Esse ciclo pode levar à falta de energia até para atividades sociais, o que reforça ainda mais o isolamento e agrava o problema.
Dentro desse contexto, a campanha Setembro Amarelo, de prevenção ao suicídio, surge como um importante lembrete sobre a necessidade de cuidar da saúde mental. Embora o foco da campanha esteja na prevenção, ela traz à tona a relevância de discutir temas como o estresse no trabalho e a sobrecarga emocional que muitos enfrentam diariamente. O ambiente corporativo pode ser um lugar desafiador, mas não deve ser um espaço de sofrimento.
Ao final, a mensagem é clara: cuidar da saúde mental deve ser uma prioridade, e isso envolve tanto ações individuais quanto a criação de ambientes de trabalho mais saudáveis e sustentáveis. Empresas que se preocupam com o bem-estar de seus colaboradores e investem em práticas que promovam o equilíbrio entre vida pessoal e profissional são aquelas que, no longo prazo, colhem os melhores resultados. Afinal, colaboradores saudáveis são também colaboradores mais engajados, produtivos e criativos. Portanto, a proteção da saúde mental em ambientes corporativos não é apenas uma questão de autocuidado, mas de criar uma cultura organizacional que valorize e respeite o bem-estar de todos.